Selic deve subir para 9,5%

Analistas acreditam que a taxa básica continuará em alta e apostam que chegará aos dois dígitos em 2014

O mercado financeiro e até mesmo o governo estarão hoje de olho no Banco Central (BC) — presidido por Alexandre Tombini —, que deve anunciar, até o início da noite, uma nova elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), para 9,5% ao ano. A decisão, apesar de já aguardada, poderá não só sacramentar o baixo ritmo de recuperação da economia como definir em que pé se dará a disputa eleitoral de 2014. 

Para analistas, o maior risco é o Comitê de Política Monetária (Copom) indicar que a alta dos juros, a quinta consecutiva no ano, esteja longe de acabar. Entre eles, há quem preveja que a Selic possa ultrapassar, até o início do ano que vem, a casa simbólica dois dígitos, enterrando, assim, o fim da maior bandeira política do governo Dilma Rousseff: o de ter levado a taxa básica ao menor patamar histórico, de 7,25% ao ano.

Ex-secretário do Tesouro Nacional, o hoje economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, disse acreditar que a Selic chegará, já em fevereiro, a 10,5% ao ano — o mais elevado patamar da taxa desde janeiro de 2012. A resposta para tamanha variação na taxa, mencionou ele, é a ainda persistente pressão que os preços exercem sobre a renda dos brasileiros. “O cenário da inflação ainda enseja muitas preocupações e, ao nosso ver, existe a necessidade de que o BC faça muito mais que o que já foi feito até agora”, ponderou. 

Kawall prevê quatro novas elevações na Selic, sendo duas de 0,5 ponto hoje e em 27 de novembro e outras duas de 0,25 ponto em 15 de janeiro e 26 de fevereiro de 2014. É justamente esse quadro que o governo quer evitar a todo custo. A avaliação de uma ala do PT é de que novas altas nos juros podem dar margem para ataques de adversários políticos em um momento em que o partido ainda tenta assimilar a surpreendente aliança política entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-ministra Marina Silva, ambos do PSB. Seria, também, um prato cheio para oposicionistas declarados, como o senador Aécio Neves (PSDB), que também deverá se colocar na disputa eleitoral do ano que vem.

Aperto
A alta dos juros também vai deixar o orçamento dos brasileiros mais apertado. Com a elevação da taxa básica de juros, o custo dos empréstimos tende a ficar, em média, 0,96% maior. Uma projeção feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que as principais linhas de crédito ao consumidor podem encarecer. O maior impacto deve ser sentido no financiamento de veículos — projeção de alta de 2,71% (veja quadro).

A alta dos juros melhora a rentabilidade dos fundos de investimento. O economista Gilberto Braga, professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), lembra, porém, que, antes de procurar aplicar o dinheiro, o investidor deve pesquisar os encargos cobrados. “Todos os fundos com taxa de administração acima de 1,5% tendem a perder até da inflação”, explicou. 

“Por isso”, completou o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac, “a melhor opção para o pequeno investidor continua sendo a poupança”. “Além de ser isenta de Imposto de Renda (IR) e de não pagar taxa de administração, tem rendimento certo de 6,17% ao ano, mais a variação da Taxa Referencial (TR). Como a Selic deve ir para 9,5% ao ano, a TR também tende a subir, e, com ela, a remuneração da caderneta de poupança aumenta”, ele explicou.