Crescimento maior apenas no fim de 2012

Para o presidente do BC, Alexandre Tombini, o Brasil terá tempos difíceis pela frente

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, previu tempos difíceis para a economia brasileira nos próximos meses. Ele sinalizou que ela vai voltar crescer em ritmo mais forte somente no segundo semestre de 2012. Mas, para que isso ocorra, o país dependerá de uma "desaceleração suave" da China, ou seja, que o Produto Interno Bruto (PIB, soma de tudo que é produzido) do gigante asiático avance pelo menos 8% para que as projeções da instituição para o Brasil se concretizem.

"O crescimento econômico no Brasil no próximo ano será maior que o de 2011 — e a inflação será menor", afirmou Tombini, ontem, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Citando as projeções do mercado financeiro, compiladas pelo BC no Boletim Focus, ele destacou que a variação anual acumulada do PIB deve ficar em 3% no quarto trimestre deste ano, caindo para 2,6% no primeiro trimestre de 2012 e para 2,5% no seguinte. A partir do terceiro trimestre, o crescimento do PIB voltará a acelerar, passando para 2,9% e depois para 3,4%, até chegar a 3,7% no primeiro trimestre de 2013.

Para o comandante da autoridade monetária, o processo de redução da inflação está em curso e os efeitos das medidas que o BC adota, como a redução da taxa básica de juros (Selic), demoram algum tempo para ser sentidos. A previsão do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 6,50% para este ano, ou seja, no teto da faixa de tolerância admitida pelo governo. "A partir de 2012, ela voltará para os patamares mais próximos ao centro da meta de 4,5%", afirmou.

Recessão
Ao fazer um balanço de seu primeiro ano à frente do BC, Tombini procurou destacar as dificuldades enfrentadas pela economia brasileira devido à crise da Europa, que não deverá encontrar uma solução imediata. "O novo plano aprovado pelos líderes europeus não representa uma solução definitiva para a crise. Falta um pacote financeiro emergencial e o endividamento fiscal demanda tempo para ser definitivamente resolvido", afirmou. Ao seu ver, os bancos europeus ainda estão vulneráveis e os mercados continuarão instáveis. "Os países europeus devem ter crescimento baixo nos próximos anos, com alguns deles entrando em recessão", completou.

Tombini reconheceu que existem preocupações em relação à economia chinesa, mas disse ter esperanças de que o país asiático possua capacidade para escapar da crise. "A China tem condições e instrumentos para arquitetar e administrar uma desaceleração mais suave e já vem se utilizando deles, como o controle da inflação", afirmou. Para ele, uma desaceleração mais forte afetaria, em primeiro lugar, as commodities minerais, cujos preços cairão mais rápido. "Os alimentos têm mais resistência, o que é bom para a gente também", concluiu.

O presidente do BC admitiu ainda que a entrada de investimento estrangeiro direto no Brasil será menor em 2012, caindo do recorde de US$ 65 bilhões que deverá alcançar neste ano para US$ 50 bilhões. Esse volume será insuficiente para cobrir o rombo previsto de US$ 65 bilhões nas transações correntes do país com o exterior (saldo da balança comercial mais serviços e rendas).

Na avaliação de Tombini, a economia brasileira poderia ter um desempenho pior em 2011 se a instituição não tivesse elevado a taxa básica de juros, no início do ano, para conter o crédito e a pressão inflacionária. A partir de agosto, com o agravamento da crise, a instituição passou a reduzir os juros.

O novo plano aprovado pelos líderes europeus não representa uma solução definitiva para a crise. Falta um pacote financeiro emergencial e o endividamento fiscal demanda tempo para ser definitivamente resolvido"
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central.